quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Mundo está a tornar-se um sítio perigoso!

Quando António entrou no bar e chegou junto dos outros, já sentados na mesa do costume, ainda ia ofegante:
"Fui atacado por um mercado!"
"Já não se pode andar na rua, coño", exclamou Pablo. "E conseguiste escapar?"
"Ameacei-o com a China, e ficou hesitante. Safei-me com um juro de 3,75% a médio prazo."
"Não foi mau, dadas as circunstâncias", concedeu Pablo. "Mas ouve só o que aconteceu aoKonstantinos."
O grego deu um gole na cerveja e começou a contar:
"Naquela zona mais escura da rua saiu-me ao caminho uma agência de rating. Queria baixar-me o rating para BB+, vejam só."
"E tu?"
"Apontei-lhe umas Eurobonds e ela (ou ele, não cheguei a perceber...) vacilou..."
"Mas as Eurobonds ainda não existem..."
"Pois não, mas o tipo (ou a tipa) estava ganzado, devia ter acabado de snifar coca, e no escuro um molho de contas por pagar passa perfeitamente por Eurobonds..."
Gargalhada geral em volta da mesa.
"Isto está a ficar perigoso", lamentou-se Patrick, o irlandês. "Os piratas já atacam em qualquer sítio. E os nossos chefes não fazem nada!"
"Eles estão feitos com os piratas, meu! Se não, por que é que deixam abertos os paraísos fiscais onde os tipos podem ir descansar entre os assaltos? Mercados, agências, é tudo a mesma mafia!"
O desalento espalhou-se à volta da mesa.
E em contraste com o ambiente acolhedor do bar, lá fora, na noite, sentia-se a presença dos predadores, vagueando, à espera...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Perder a fé é muito triste...

Eleutério era um crente convicto. Acreditava no deus Mercado e seguia religiosamente os conselhos que lhe eram dados pelo seu banco, mediador entre ele próprio e a divindade. Mesmo quando as aplicações que o banco lhe aconselhava davam prejuizo, Eleutério ainda agradecia ao Mercado que o prejuizo não tivesse sido maior.
Alguns dos seus amigos e colegas eram clientes de outros bancos. A esses, Eleutério tentava por vezes aliciar para aderirem ao seu, mas face ao insucesso do seu proselitismo, consolava-se com a ideia de que, ao fim e ao cabo, todos adoravam o mesmo deus.
A fé de Eleutério começou a vacilar quando tomou consciência de que a sua antiga religião, tradicional e confiável, monoteísta, tinha dado lugar a uma outra, instável, volúvel, imprevisível, politeísta. Já não era "o Mercado", mas sim "os mercados".
E quando descobriu que os mercados pressionavam, exploravam, podiam levar empresas e países à bancarrota, provocando a ruína de milhões de pessoas, Eleutério perdeu a fé por completo.
No dia seguinte a essa epifania de sinal menos, Eleutério dirigiu-se ao banco, e como primeira atitude do seu recentemente adquirido estatuto de ateísmo militante, levantou até ao último cêntimo todo o dinheiro que tinha na conta, levou-o para casa e escondeu-o debaixo do colchão.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prémio Dardos


A Luísa do blogue À ESQUINA DA TECLA, que já figurava aqui na lista ao lado, atribuiu-me o Prémio Dardos, o que muito agradeço.

Na sua definição,

"O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc.... que, em suma, demonstrem a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras e as suas palavras. Estes selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."

Cabe-me agora nomear 10 blogues aos quais reconheço as características que o prémio pretende distinguir. Haveria mais, mas esse é o problema de todas as selecções. Uns actualizados com mais frequência, outros nem tanto, esta lista documenta também a (demasiada?) dispersão dos meus interesses e afectos.

E sem mais justificações, por ordem desordenada, aqui vão:


Estrada de Santiago

Moura Aveirense

Rua dos Dias que Voam

Que Treta!

De Rerum Natura

Pó dos livros

Montag By their covers

Efeitos Secundários

A namorada de Wittgenstein

domingo, 31 de outubro de 2010

Magia no hemiciclo

Começou com aquele deputado que não sabia o que era a Ongoing e alguns meses depois estava a renunciar ao mandato para ingressar nos quadros dessa mesma empresa.
Depois foi o outro que disse num intervalo entre duas sessões do plenário: "Electricidade sei o que é; é aquilo que aparece quando a gente carrega num interruptor. Mas isso da Iberdrola o que vem a ser?"
Semanas mais tarde, era nomeado Director da eléctrica espanhola.
Aconteceu também com um terceiro que, a meio do almoço com uns colegas no Café de São Bento, exclamou: "Cimpor? O que vem a ser isso? Cimento? Não é aquele material que serve para fazer casas?"
No mês seguinte, pedia suspensão do mandato e ingressava no conselho de administração da cimenteira.
Enquanto a maior parte dos deputados cogitava sobre a empresa em relação à qual deveriam demonstrar publicamente a mais profunda ignorância, aconteceu o impensável. Aquele representante da Nação que se sentava sempre na última fila - ninguém sabia ao certo a que partido pertencia, porque nunca tinha aberto a boca desde a tomada de posse - foi subitamente despertado do seu torpor por uma frase dita em tom mais agudo pelo colega no uso da palavra, e exclamou, estremunhado:
"Portugal? O que é isso?"
Teme-se que venha a ser o próximo Presidente da República...

sábado, 25 de setembro de 2010

Coisas do baú (2)

Desta vez a culpa é do Luís Filipe Silva, que no seu site/blogue "ressuscitou" um poema com temática FC que escreveu há anos para a antologia Linhas Cruzadas, editada pela PT Telecom.
Ao ler o poema, lembrei-me de um outro com ambiente semelhante, escrito há algumas décadas e publicado então no Diário de Lisboa Juvenil.
Estávamos (e estaríamos!) ainda em plena guerra fria. Com o entusiasmo da adolescência, dei ao poema o duplo título "Pesadelo" ou "Poema para o desarmamento". Para minha surpresa, ou por opção do coordenador da página, ou por auto-censura ou por censura "da outra", foi dado à luz com o título que aqui se mostra... o que me deixou na mesma satisfeito!

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

A consulta

O consultório do psiquiatra era acolhedor. Paredes forradas a madeira, a luz exterior coada por cortinados nas janelas, um sofá confortável onde estava sentado um paciente, numa pose relaxada, enquanto o médico ocupava uma cadeira à sua frente.
"A sensação que tenho, senhor doutor, é que existem dois mundos no mundo."
"Pode ser mais explícito?"
"Há um mundo superficial, aquele onde as pessoas se comportam de forma civilizada, que segue regras, que cumpre as leis, e há um outro mundo subterrâneo, escuro, violento, onde quem tem poder exerce-o de forma arbitrária, onde impera a lei do mais forte, onde as actividades criminosas não encontram quaisquer barreiras... E este mundo subterrâneo controla o outro... Estou angustiado, doutor..."
"O senhor está a sofrer de hiper-reacção aos media. Não veja tanta televisão, está provado que os noticiários transmitem violência numa proporção superior à violência real que ocorre na sociedade. Vou prescrever-lhe um calmante ligeiro. Faça por se distrair, leia um bom livro, e gostaria de voltar a vê-lo dentro de uma semana."
Paciente e médico despedem-se com um aperto de mão. O paciente sai.
O médico fica uns segundos pensativo, senta-se à secretária e liga o computador, com o qual trabalha durante dois ou três minutos. Em seguida marca um número no telemóvel:
"Mais um que começou a suspeitar. Coloquei a ficha dele na lista. Podem ir buscá-lo a casa, é mais discreto. Vou já assinar a autorização de internamento."
Pega na folha de papel que acabou de sair da impressora, faz uma rubrica no canto inferior direito e coloca a folha no tabuleiro dos assuntos despachados. Suspira e prime o botão do intercomunicador:
"Isabel, pode mandar entrar o próximo doente."

quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Coisas do baú (1)

Alguns textos com idades entre os vinte e os trinta anos, unicamente existentes em suporte papel, com tão má qualidade que nem o software OCR consegue "apanhá-los", o que implica introduzi-los penosamente palavra a palavra. Editei o mínimo, apenas gralhas, porque a ideia era mesmo mostrar coisas antigas. O que segue é um deles...

Linhas convergentes
"Tem toda a razão, minha amiga", disse o Conselheiro, pousando a chávena de chá na mesinha com incrustações de marfim. "Tudo está muito mudado actualmente. E infelizmente para pior." Isto dito, recostou-se mais confortavelmente na poltrona forrada de veludo e tirando um cigarro da cigarreira de prata, acendeu-o com meticuloso cuidado.
A sua interlocutora, os dedos brincando distraidamente com as pérolas do colar, continuou:
"Veja a política, por exemplo. O meu amigo recorda-se certamente do meu falecido tio. Ainda ontem, ao folhear o álbum de família, tornei a ver o seu retrato. Um aprumo! Uma personalidade! Pois ele era embaixador na Basluvónia na altura em que aquele primeiro-ministro (esqueci-me do nome) começou a tomar umas medidas, enfim, pouco próprias, nacionalizações, coisas desse género."
"E o exército resolveu intervir. E uma noite, havia um baile no Palácio Real (quem nos contou isto foi a tia, porque o tio era homem de poucas falas, como sabe) penso que era uma recepção ao corpo diplomático, e no meio de uma valsa, a orquestra parou subitamente de tocar. O general Zalovic, em uniforme de gala, entrou no salão, aguardou que se fizesse silêncio e dirigiu-se aos presentes: Excelências, (contava a tia que se poderia ouvir um alfinete a cair no chão) verificando que a política seguida por este país estava a torná-lo um foco de instabilidade nas relações internacionais, uma Junta Militar, a que presido, decidiu tomar nas suas mãos os destinos da nossa Pátria. O governo foi deposto e o parlamento suspenso. A Junta garante a protecção das pessoas e bens dos cidadãos estrangeiros. A legislação recentemente promulgada será reexaminada à luz dos reais interesses da Basluvónia. Disse isto, fez continência, deu meia-volta e retirou-se. No dia seguinte a cavalaria saiu à rua para dominar alguns pequenos tumultos, foram presos uns quantos agitadores e o país voltou à normalidade. Foi naturalmente imposta a censura à imprensa, o que fez respirar de alívio as pessoas de bem, cujos nomes eram contantemente enxovalhados nas folhas radicais.
Era assim a política nesse tempo. Era tacto, diplomacia, savoir-faire... não era nada desta confusão de agora! Desvios de aviões! Raptos! Sequestros!"
O Conselheiro sacudiu um imaginário grão de poeira do vinco das calças e abanou a cabeça enfaticamente:
"Plenamente de acordo. De resto, ainda há bem poucos dias, em conversa com o meu grande amigo (...)"

*****

"E tens a certeza que o António foi apanhado?"
"Absoluta. É a única coisa que o faria faltar ao encontro. Foi por isso que accionei o plano de emergência. Nunca se sabe quanto tempo se resiste lá dentro sem falar."
Dois homens num banco de autocarro. Um lê o jornal, o outro olha pela janela. A conversa é murmurada, apenas o necessário para se sobrepor ao ruído de fundo do trânsito à hora de ponta.
O autocarro pára. Eles descem. Na rua, um terceiro homem espera-os.
"Foram buscar o Roberto ao jornal! E estão a passar o nosso bairro a pente fino."
"Isso não nos deixa qualquer hipótese de escolha. Encontramo-nos no sítio combinado dentro de meia hora. Tenham cuidado."
Os três homens desaparecem em direcções diferentes. Anoitece.

*****

(...)
"Mas isso que constou a respeito dele seria verdade? Que eu nunca dou ouvidos a boatos, mas..."
"Calúnias, minha amiga, calúnias! Uma pessoa que chega onde ele chegou cria naturalmente inimigos. Invejas..."
"Note que eu sempre o considerei uma pessoa de sólida formação moral. Basta ver a forma como ele educa os filhos..."
O pêndulo do relógio brilha com o reflexo do fogo que arde na lareira. O Conselheiro pensa numa desculpa para se ir embora. (Esta velha quando começa a falar nunca mais se cala! Se não precisasse da influência dela para esta operação financeira...)
"Olhe, vou-lhe contar um caso que chegou ao meu conhecimento e que dá uma ideia do seu carácter. O caseiro de uma das suas propriedades..."

*****

Luís acende um cigarro e aspira profundamente o fumo.
"O.K., a casa é esta. A dona é velha, rica, família no governo e na banca e vive sozinha com uma criada. Mas hoje parece que tem visitas, a julgar pelo carro com motorista estacionado em frente da porta. Melhor!"
É noite completa. No bairro residencial quase o silêncio, como se a cidade fosse muito longe.
Luís a Pedro:
"Portanto tocas à porta da frente e tens que entreter a criada pelo menos um minuto, enquanto nós entramos por uma janela das traseiras. Depois aguardas, e quando vires a luz do primeiro andar apagar e acender três vezes, cavas e telefonas aos jornais. Sabes o resto, não sabes?"
Pedro fz que sim com a cabeça. Troca apertos de mão com Luís e Manuel e estes desaparecem ao longo do muro baixo do jardim que rodeia a vivenda.
Os dois homens estão agora junto de uma das janelas que dão para o jardim, ao nível do solo. Ouvem, amortecido, o som da campainha da porta. Aguardam alguns instantes e Manuel começa a trabalhar na janela, de modelo antigo, que cede ao fim de poucos segundos. Entram na casa. A luz da lnterna eléctrica revela móveis antigos, um baú, um armário. A porta!
Corredor. Alguns degraus até ao nível da rua. Ao começarem a subir a escada alcatifada que conduz ao piso superior, ouvem através de uma porta a voz da criada que fala com Pedro.
Reposteiros. Óleos nas paredes. Uma armadura. Porcelanas.
Luís e Manuel caminham ao longo do corredor. Param junto de uma porta. Luís espreita pelo buraco da fechadura. Endireita-se. Tira do bolso do casaco a pistola automática e destrava-a. Manuel faz o mesmo. A mão esquerda de Luís começa a rodar lentamente o manípulo do trinco. Empurra a porta que se abre sem ruído. Dentro da sala, uma voz masculina:
"(...) uma ideia do seu carácter. O caseiro de uma das suas propriedades..."

sábado, 14 de agosto de 2010

Gregor Samsa (6)

A 3ª Guerra Mundial
Gregor Samsa tinha lido que após uma guerra nuclear, os únicos sobreviventes seriam as baratas.
A cimeira EUA – URSS em Praga seria uma boa altura para começar. Em grande, com o assassinato simultâneo dos dois líderes...
O seu exército de pequenas carapaças negras já estava bem treinado...

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Gregor Samsa (5)

Teoria da evolução: adaptação ao meio
A alimentação foi inicialmente um problema, mas Gregor Samsa encontrou a solução de forma algo inesperada.
Quando aquele vizinho o encontrou na escada e começou a gritar histericamente, Gregor, em legítima defesa, atacou-o à dentada.
Os humanos podem ser muito irritantes, mas como fonte de proteínas não estão mal…

quinta-feira, 12 de agosto de 2010

Gregor Samsa (4)

Há que tentar sempre dar a volta por cima…
Uma vez passado o choque inicial, Gregor Samsa conformou-se e tentou ver o lado positivo da situação: É muito melhor ser uma barata gigante no reino das baratas do que um obscuro caixeiro-viajante, levando uma vida miserável no meio dos humanos…

quarta-feira, 11 de agosto de 2010

Gregor Samsa (3)

Sonhos…
A barata despertou do pesadelo com uma sensação de alívio…
Tinha sonhado que era um homem, um daqueles monstros que tentam pisá-la sempre que a encontram, atarefada nas suas andanças diárias. Lembrava-se que o monstro se chamava Gregor Samsa, e que estava angustiado porque pensava ser uma barata…

terça-feira, 10 de agosto de 2010

Gregor Samsa (2)

Há situações em que ser pequeno pode ajudar...
Já transformado em barata, Gregor Samsa caiu no mesmo buraco onde Alice tinha caído noutra história.
Comeu da metade do cogumelo que fazia diminuir de tamanho e ficou realmente minúsculo…
A única consolação é que assim escapará mais facilmente às fúrias da Rainha de Copas…

segunda-feira, 9 de agosto de 2010

Gregor Samsa (1)

No mês passado, Sergio Vel Hartman lançou um pedido de textos com o máximo de 49 palavras, tendo como tema Gregor Samsa. Arranjei 5 (3+ 2) que lhe enviei e que ele teve a gentileza de traduzir para espanhol. Essas versões traduzidas apenas surgirão à luz quando o projecto em que se inserem aparecer. Mas os originais irão ser aqui divulgados, one by one
Vai hoje o primeiro.

O uno e o múltiplo
Gregor Samsa leu uma notícia que o intrigou sobre um Gregor Samsa que se tinha transformado numa barata.
“Curiosa coincidência”, pensou, e começou a sentir uma forte comichão nas costas, nas articulações, em todo o corpo…
A essa hora, um outro Gregor Samsa lia uma notícia…

terça-feira, 3 de agosto de 2010

Uma hipótese que merece ser testada

Surpreende-me que entre a avalanche de comentários que têm dissecado o despacho do Freeport, nenhum comentador tenha sugerido a existência de efeitos relativísticos na percepção da passagem do tempo pelos senhores procuradores.
O teste desta hipótese envolveria meter os sujeitos da experiência num foguetão que seria acelerado até uma velocidade próxima da da luz e depois desacelerado, e quando saíssem do foguetão perguntar-lhes a data e a hora. Se para eles tivessem passado meia dúzia de horas enquanto na Terra tivessem decorrido, digamos, 6 anos, a hipótese estaria confirmada.

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

Notícias do futuro (1)

Obituário

Faleceu ontem, vítima de doença prolongada, o senhor Eleutério Silva, que era o único português vivo a saber de cor a tabuada da multiplicação até ao 9 X 9.
Por proposta da Fundação dos Amigos da Matemática, o Presidente da República irá atribuir a Eleutério Silva, a título póstumo, a medalha de mérito da Ordem da Instrução Pública.
O funeral realiza-se esta tarde para o Talhão dos Cientistas do cemitério do Alto de S. João. Às 18 horas, em todos os reality shows em exibição em todos os canais de televisão será observado um minuto de silêncio.
À família enlutada, a TêVêPub apresenta as mais sentidas condolências.

domingo, 1 de agosto de 2010

A Paradoxical Song

Numa vida paralela, participei durante 4 anos num projecto de investigação europeu intitulado Fire Paradox, sobre os múltiplos aspectos envolvidos no fogo florestal.
O projecto terminou em Fevereiro passado, e a reunião de encerramento teve lugar em Friburgo. No regresso, o atraso num voo de ligação, com as correspondentes horas para queimar no aeroporto, fizeram nascer o seguinte poema, talves porque ainda tinha nos ouvidos um fabuloso concerto de China Moses, a que assistimos numa das noites que passámos naquela cidade (estas reuniões também têm um lado social, queriam o quê?).
E assim, aqui fica a minha contribuição para a Silly Season em que já estamos mergulhados...


The Post-Paradox Blues

I was a Fire Paradox member
‘cause fire is very handsome
Then the end of February arised
And somethin’ strange come

It was nice to meet everybody
Walking, talking, ‘earing and show
Even go on the train uphill
To ‘ave a look at the beautiful snow

But this morning I feel sad
And why? I not ‘ave any clues
And the God of Fire came and said
Ma son, you’re feeling the Post-Paradox Blues…

The Post-Paradox Blues… Oh yeah…


Lirics by João Ventura (Feb 28, 2010)
Music yet to be composed…

sábado, 31 de julho de 2010

31

Seria aqui apropriado cantar o "Fado do 31", se eu gostasse dele, o que felizmente não acontece.
Assim, só me resta agradecer à dezena meia dúzia dois ou três leitores fiéis que acompanharam esta sequência. Entramos agora em dormência estival, o que significa uma periodicidade menos diária...
E ainda bem que os meses não são mais longos!

sexta-feira, 30 de julho de 2010

30

É a soma dos primeiros quatro quadrados (1 + 4 + 9 + 16 = 30).
Tem como divisores os números 1, 2, 3, 5, 6, 10, 15 e 30.
Segundo Mateus 26:15, 30 moedas foi o pagamento a Judas por trair Jesus.
No livro de Kafka "O Processo", o personagem principal é preso na manhã do dia do seu trigésimo aniversário, por um crime não especificado, que nunca chega a descobrir qual seja. Deste livro nasceu o termo "kafkiano"; não são muitos os livros que se possam orgulhar de ter dado origem a adjectivos.
Finalmente, 30 é o último dia de alguns meses. Outros, como o actual, na promoção de lançamento do calendário gregoriano conseguiram abichar um dia a mais, e por isso esta saga só termina amanhã...

quinta-feira, 29 de julho de 2010

29

Na distribuição final, Fevereiro acabou por receber mais um dia, e ficar com 29... mas só de 4 em 4 anos!
É o décimo número primo.
É a soma de três quadrados consecutivos - os quadrados de 2, de 3 e de 4 ( 2 X 2 + 3 X 3 + 4 X 4 = 29 ).

quarta-feira, 28 de julho de 2010

28

O mês lunar tem aproximadamente 28 dias.
Um jogo de dominó tem 28 peças.
O mês de Fevereiro deve ter feito alguma a quem distribuiu os dias pelos meses, porque só ficou com 28 dias (esta informação não é totalmente exacta, mas será corrigida amanhã...)

terça-feira, 27 de julho de 2010

27

O planeta Urano tem 27 luas (há planetas que são uns gulosos...).
Mozart nasceu a 27 de Janeiro de 1756 e escreveu 27 concertos para piano e orquestra.
Muita gente importante da música recente morreu com 27 anos. Uma lista na wikipedia inclui Robert Johnson, Janis Joplin, Jimi Hendrix, Brian Jones, Jim Morrison, Ron "Pigpen" McKernan, Pete Ham, Richey Edwards, e Kurt Cobain.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

26

Está encurralado entre um quadrado ( 25 = 5 X 5 ) e um cubo ( 27 = 3 X 3 X 3 ), o que o deixa por vezes um pouco desconfortável...
Num baralho de cartas normal, há 26 cartas vermelhas e 26 cartas pretas.

domingo, 25 de julho de 2010

25

Um dos mais notáveis é o de Abril, uma data que muitos tentam fazer esquecer e outros insistem em lembrar.
E só quem já esqueceu (ou não viveu) o "antes" pode vir dizer que o "depois" é pior que o "antes"!

sábado, 24 de julho de 2010

24

É o factorial de 4 (4! = 1 X 2 X 3 X 4 = 24)
É o número atómico do crómio (Não confundir com "cromo", que também pode ser um "grande número"...)
É o número de horas num dia (Exortação ao trabalho: "Se pensas que o dia só tem 24 horas, lembra-te que ainda há as noites!")

sexta-feira, 23 de julho de 2010

23

Informações encontradas na web sobre o número 23. Não sei como consegui viver até agora na ignorância destes factos...
Júlio César foi apunhalado 23 vezes. Obviamente os assassinos não eram profissionais muito competentes...
Há 23 línguas oficiais na União Europeia. Alguém mencionou a Torre de Babel?
Shakespeare nasceu a 23 de Abril de 1564 e morreu a 23 de Abril de 1616. Alguém devia escrever uma peça de teatro sobre tão importante coincidência...
Os EUA realizaram 23 explosões nucleares no atol de Bikini. Como 23 tinha resultado com César, acharam que com 23 bombas o atol ficaria morto e bem morto...

quinta-feira, 22 de julho de 2010

No Brasil

O meu conto A Pedra, aqui referido, publicado inicialmente no Storm Magazine, foi agora republicado no site Contos Fantásticos. Agradeço ao Afonso Pereira, administrador do CF.

22

Uma das aplicações mais literárias deste número é a novela Catch-22, de Joseph Heller, publicada em 1961. O termo "catch-22" entrou na língua inglesa para designar situações semelhantes à do protagonista do livro.
Num outro registo, o Titanic viajava à velocidade de 22 nós quando chocou com um iceberg. Se a velocidade fosse 21 ou 23 nós, o curso dos acontecimentos teria sido diferente?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

21

É a soma dos primeiros seis números naturais (1+2+3+4+5+6=21).
Em 1907, MacDougall pesou seis doentes que morriam de tuberculose, antes e depois da morte. Da média das diferenças de peso registadas inferiu que a alma humana pesava 21 gramas.
21 anos já identificou a passagem para a maioridade, que depois diminuiu para 18, excepto nas juventudes partidárias onde se é jovem quase até à idade da reforma.

terça-feira, 20 de julho de 2010

20

Reuniram há alguns dias mais uma vez os G20 que acharam que isso de taxar os bancos não era oportuno porque, coitados, eles (os bancos) não tiveram nada a ver com a crise em que estamos mergulhados...

segunda-feira, 19 de julho de 2010

19

Em Romano escreve-se XIX, em binário 10011 e em hexadecimal 13. Ah, e é primo.
Não é VIP, não aparece nas revistas sociais, e não há muito mais que se possa dizer sobre este número pouco notável...

domingo, 18 de julho de 2010

18

Além do zero, é o único número igual ao dobro da soma dos algarismos que o compõem.
Numa escala de 0 a 20, dezoito já é uma boa nota, embora os dois números que se seguem sejam naturalmente melhores...

sábado, 17 de julho de 2010

17

É o número atómico do cloro, o número de sílabas num haiku, e a idade com que passei a entrar no cinema e poder ver qualquer filme. Já foi há muito tempo, mas ainda recordo uma vaga sensação de orgulho, face aos amigos que ainda só tinham desasseis anos...

sexta-feira, 16 de julho de 2010

16

Quarta potência de dois. Base do sistema hexadecimal de numeração, usado extensivamente em informática.
Número muito usado em sistemas tradicionais de pesagem, porque é mais fácil dividir um material a granel em desasseis partes iguais por sucessivas divisões ao meio do que em dez partes.
O que a gente aprende na Wikipédia!

quinta-feira, 15 de julho de 2010

O leilão

Os livros sabiam que aquele que com amor os reunira tinha morrido.
Sabiam também que os herdeiros não gostavam de livros. Apenas estavam interessados na receita do leilão.
Durante várias noites, na velha biblioteca, os livros discutiram o que fazer. Os velhos tratados filosóficos eram os mais palavrosos, mas todos eles eram pacientes, os mais antigos eram ouvidos com atenção, tinham ganho sabedoria de muitos leitores.
Lentamente foi emergindo uma decisão. Eles gostavam de estar juntos, e a perspectiva de serem separados em lotes e dispersos era impensável. E quando “Aforismos para a Sabedoria da Vida” de Schopenhauer propôs o suicídio colectivo, o silêncio exprimiu o acordo unânime.

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Antes do leilão, quando os licitantes começaram a examinar os livros, ouviram-se vozes de espanto: os livros tinham todas as páginas em branco!
Se os livros possuem almas imortais, como alguns defendem, estas deviam estar bem divertidas…


Este foi o outro conto enviado ao mesmo concurso, que também ficou entre os seleccionados.

A crise no meu bairro

Xico Melenas, nado e criado no bairro, era a agência de rating local, informando o Joaquim da mercearia Pérola da Travessa e o Antunes da leitaria Alvorada sobre a capacidade de endividamento dos vizinhos.
A crise rebentou naquela manhã em que o Zé Grande entrou na leitaria e pediu um bagaço.
“Não te posso fiar mais”, disse o Antunes.
“E por quê?”
“A tua notação baixou de AA+ para BB-.”
Zé Grande largou um palavrão, virou costas e saiu desembestado.
Coisas do destino: à saída da leitaria quase choca com o Xico. Sem aviso, com a raiva acumulada da ressaca, deu-lhe um murro que o deitou ao chão, agarrado ao nariz que sangrava. E avisou-o:
“Se tornas a baixar-me a notação, levas dois!”
Agora o Xico lamenta-se a quem o quer ouvir que um bairro tão atrasado ainda não está preparado para o capitalismo moderno.


A presente fábula ficou entre os 10 seleccionados (para além dos 2 premiados)  do Concurso de mini-contos (150 palavras) IST Tagus Park, realizado com a colaboração da Simetria. Qualquer sugestão de transposição para a realidade "real" é da responsabilidade exclusiva do leitor.

15

Metade do mês... É a partir deste dia que os gasolineiros dizem que notam a diminuição dos carros a abastecer, e os que aparecem pagam com notas mais pequenas...

quarta-feira, 14 de julho de 2010

14

...de Janeiro é feriado municipal na terra onde nasci. Comemora uma das batalhas da guerra da restauração, contra os nossos vizinhos peninsulares.
Eu não sou muito destas efemérides guerreiras, mas não me lembrei de mais nada para falar do número catorze...

terça-feira, 13 de julho de 2010

13

Dizem que dou azar, e por isso não me utilizam para identificar quartos de hotel, nem camarotes de navios de passageiros...
E tudo isto, segundo consta, devido a uma ceia que teve lugar há mais de dois mil anos, que tinha treze sentados à mesa, e que acabou por correr mal...
Por causa disso, até lhe passaram a chamar A Última Ceia!

segunda-feira, 12 de julho de 2010

12

Os apóstolos eram doze, os cavaleiros da Távola Redonda parece que também (embora aí as opiniões não sejam unânimes), o ano tem doze meses... Em suma, o doze é um número importante!
 
Às vezes chamam-lhe "uma dúzia", mas a isso ele não dá grande importância...

domingo, 11 de julho de 2010

11

Há onze jogadores numa equipa de futebol, e o ciclo solar dura 11 anos, mas não é seguro que a coincidência se deva ao facto de a bola e o sol terem ambos forma esférica...
A velocidade de escape da atracção terrestre é cerca de 11 km por segundo e há também o "Ocean's eleven" que é também sobre o "escape" de muitos milhões de dólares da casa-forte de um casino em Las Vegas...

sábado, 10 de julho de 2010

10

É a base do sistema de numeração mais usado. O facto de uma pessoa normal ter dez dedos no conjunto das duas mãos não deve ser estranho ao facto.
E há também os 10 mandamentos, que o Cecil B. DeMille meteu num filme, onde quem fazia de Moisés era o Charlton Heston, que a combater o faraó ganhou experiência para vir a ser presidente da National Rifle Association, que são os tipos que acham que um cidadão já devia nascer com um Colt 45 na mão...

sexta-feira, 9 de julho de 2010

9

Eram nove, até que despromoveram Plutão. Não sei como os terráqueos tiveram o atrevimento de fazer isso, sem consultar as outras espécies inteligentes do sistema solar. As medusas de Júpiter não gostaram, e afixaram sinais de desagrado na atmosfera do planeta, mas na Terra não perceberam... Os cristais pensantes de Marte também ficaram aborrecidos, os sextópodes dos mares de Europa mudaram de cor, e nós, os enxames sentientes que habitamos os anéis de Saturno vibrámos em uníssono durante várias rotações...
Isto ainda vai acabar mal!

quinta-feira, 8 de julho de 2010

8

Devido a razões que não vêm agora ao caso, foi escolhido para ser o número de bits num byte (Alguém recorda a palavra "octeto"?).
Mas como um byte (em geral) nunca vem só, passou-se a falar de 16, de 32 e até de 64 bits...
Do 16 ainda viremos a falar, dos outros dois não, porque já estão fora do mês...

quarta-feira, 7 de julho de 2010

7

São sete os pecados mortais: Soberba - Avareza - Luxúria - Ira - Gula - Inveja - Preguiça.
E como são sete os dias da semana, dá para escolher um pecado para cada dia.

O problema está na escolha...

terça-feira, 6 de julho de 2010

6

Detesto aquela alcunha: "meia-dúzia"! Nunca ninguém chama "meia-dezena" ao cinco, mas a mim... "meia-dúzia"! Que mania!
As embalagens muitas vezes têm dentro seis objectos, sejam ovos ou lápis de cor, e isso deixa-me satisfeito.
E no meu CV consta que sou o primeiro divisível por 1, por 2 e por 3...
Versátil, é o que eu sou!

segunda-feira, 5 de julho de 2010

International News

Um breve intervalo nos dias do mês só para anunciar que o miniconto Open Day referido aqui iniciou uma carreira internacional (cof! cof!) ao ser publicado no blogue Químicamente Impuro (na lista dos links ali à direita), editado por Sergio Gaut vel Hartman, escritor e editor argentino, a quem fico grato também pela tradução.

5

Do fundo da memória surge a lenga-lenga aprendida na infância:
"Dedo mindinho
Seu vizinho
Pai de todos
Fura-bolos
Mata piolhos"
Do aperto de mão e da palmada amigável nas costas até ao punho cerrado na manifestação, lá estão os cinco. A amassar pão ou a percorrer alegremente as teclas do piano, são eles novamente. Sempre juntos, uma equipa colaborante.

E também há os livros da Enid Blyton, mas esses vieram muito depois...

domingo, 4 de julho de 2010

4

O 4 interroga-se por que razão os cavaleiros do Apocalipse são quatro. Não se importa com as quatro virtudes cardinais, mas detesta a morte e destruição trazida pelos cavaleiros, ele é um número pacífico, que adora fazer paciências usando os quatro naipes de um baralho de cartas, enquanto ouve "As quatro estações"... Ah, Vivaldi!

sábado, 3 de julho de 2010

3

A Trindade e a tripeça. Uma pendurada do céu, outra assente no chão. E nenhum dos pés precisa de um calço (falo da tripeça, claro).
Há uma outra Trindade onde se bebe cerveja, e quem beber demais pode cair da tripeça...
Isto anda tudo ligado!

Mas o pior de tudo é quando cai o Carmo e a Trindade!

sexta-feira, 2 de julho de 2010

2

Durante muito tempo, os dois uns que o constituíam tinham de ser diferentes, só dessa forma um 2 era legal e moral.
Mas depois passou a ser legal os dois uns serem iguais. Alguns disseram que podia ser legal, mas não era moral, mas os 2 com uns iguais nem os ouviram...

quinta-feira, 1 de julho de 2010

1

Era o primeiro, e sentia orgulho nisso. Está bem, havia o zero, mas quem dava importância a um número que nem era bem número, que tinha vindo lá da India, ou Arábia, ninguém sabia ao certo...
Foi então que se deu a invasão dos negativos. Eram como imagens no espelho dos números já existentes, mas todos traziam agarrado um sinal menos.
A recta dos números ficou horizontal, porque agora havia dois conjuntos a crescer para infinito de um e outro lado do zero. Este aparecia como uma espécie de fiel da balança, o que obviamente lhe dava estatuto!
E o número 1, ao perder importância, deixou de se sentir um número natural...

domingo, 16 de maio de 2010

Nos autores não se pode confiar...

Quando chegou ao fim da estrada, Joaquim encontrou um cartaz que dizia:
"A história acaba aqui."
Desconfiado, espreitou por detrás do cartaz; e nessa altura Joaquim, personagem de romance, ficou com a certeza que o autor o tentava enganar... Ali era apenas o fim do capítulo III, e atrás do cartaz começava o capítulo IV!

sábado, 8 de maio de 2010

Os portugueses estão sempre a queixar-se


de maleitas. Pois agora podem escolher de uma lista de doenças inventadas pelos mais criativos escritores do mundo.
 
Almanaque do Dr. Thackery T.
Lambshead de Doenças
Excêntricas e Desacreditadas
Vários Autores

Publicado pela primeira vez em 1915, durante a I Grande Guerra, o Almanaque do Dr. Thackery T. Lambshead de Doenças Excêntricas e Desacreditadas foi durante trinta anos difundido a médicos de todo o mundo em folhas de carbono ou fotocópias. O trabalho do Dr. Lambshead inspirou génios clínicos de todo o mundo, e Portugal não foi excepção, encontrando no Dr. Anófeles Calamar Trindade e no seu Compêndio Médico de Doenças Notáveis e Invulgares uma referência incontornável.
Por ocasião da primeira edição portuguesa do Almanaque, foi o próprio Dr. Lambshead, agora com mais de cem anos de idade, que decidiu confiar a edição às mãos capazes, se bem que ainda jovens, do Dr. João Seixas. É a ele que coube a tarefa de reunir novas descobertas propostas por um formidável leque de eminentes especialistas médicos portugueses, seguindo na peugada do grande pioneiro clínico Dr. Anófeles Calamar Trindade. Pela primeira vez, as suas descobertas são apresentadas num volume único e insubstituível, onde se juntam ao trabalho de colegas norte-americanos e britânicos de grande reputação como o Dr. Alan Moore, Dr. Neil Gaiman, Dr. Jeff Vandermeer ou o Dr. China Miéville, entre muitos outros.

Data de lançamento: 21 de Maio de 2010

(O texto anterior foi extraído do press-release da Editora Saída de Emergência)

Só quero acrescentar que também eu vesti a bata branca, puz o estetoscópio ao pescoço e apresentei um dos casos clínicos que poderão ser lidos neste livro. A "minha" doença intitula-se Insideout. E mais não digo (segredo profissional, juramento de Hipócrates e essas coisas...).

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Open Day

O mini-conto "Open Day", afixado aqui no "Das Palavras..." no dia 8 de Janeiro p.p., foi o vencedor do Concurso de Mini-Contos IST/Simetria de 2009.
Uma selecção dos contos concorrentes foi exposta no campus do IST no Taguspark, onde tiveram lugar outras actividades inseridas nas comemorações do Dia do Livro.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

A Ciência passou pela Assembleia da República... mas não se demorou!

Já faltou mais para que os bolseiros de investigação deixem cair os "direitos elementares" e passem a reivindicar "direitos alimentares"!

quarta-feira, 7 de abril de 2010

Prémios...

Perante as notícias recentes de prémios a gestores, justificados por terem excedido os objectivos fixados, lembrei-me de um poema de Bertold Brecht, lido há muitos anos. Em menos de um minuto (viva a web!) encontrei-o aqui e não resisti a "roubá-lo". Os grandes autores continuam sempre actuais...

Perguntas de um Operário Letrado

Quem construiu Tebas, a das sete portas?
Nos livros vem o nome dos reis,
Mas foram os reis que transportaram as pedras?
Babilónia, tantas vezes destruida,
Quem outras tantas a reconstruiu? Em que casas
Da Lima Dourada moravam seus obreiros?
No dia em que ficou pronta a Muralha da China para onde
Foram os seus pedreiros? A grande Roma
Está cheia de arcos de triunfo. Quem os ergueu? Sobre quem
Triunfaram os Césares? A tão cantada Bizâncio
Sò tinha palácios
Para os seus habitantes? Até a legendária Atlântida
Na noite em que o mar a engoliu
Viu afogados gritar por seus escravos.

O jovem Alexandre conquistou as Indias
Sózinho?
César venceu os gauleses.
Nem sequer tinha um cozinheiro ao seu serviço?
Quando a sua armada se afundou Filipe de Espanha
Chorou. E ninguém mais?
Frederico II ganhou a guerra dos sete anos
Quem mais a ganhou?

Em cada página uma vitória.
Quem cozinhava os festins?
Em cada década um grande homem.
Quem pagava as despesas?

Tantas histórias
Quantas perguntas

sábado, 3 de abril de 2010

A floresta

A floresta era muito antiga. Diziam os mais velhos da aldeia que já os avós dos seus avós a tinham conhecido naquela colina. Diziam também que há muitos anos os magos nela se reuniam para a celebração dos seus rituais. E os habitantes da aldeia evitavam aproximar-se da floresta e muito menos atravessá-la.
Contava-se na aldeia que uma vez um lenhador tinha decidido ir lá cortar lenha e, segundo uns, não tinha voltado, segundo outros, tinha regressado enlouquecido, sem dizer coisa com coisa.

quarta-feira, 31 de março de 2010

STOP PRESS!   ULTIMA HORA!

Acaba de ser descoberta a forma como as agèncias de rating produziam as previsões sobre a saúde económica futura de países e empresas.
Numa cave bem escondida de olhares indiscretos, foram encontrados o Professor Mamadu, a taróloga Maya e o Professor Fofana, a quem eram arrancadas previsões sob ameaça de serem deixados morrer à fome.
As previsões dos astrólogos eram depois introduzidas num aparelho - os peritos do FBI estão ainda a investigar o funcionamento desse dispositivo, descrito por uma testemunha como "parecido com uma máquina de fabricar chouriços" - do qual saíam os famosos rótulos AAA, AA+ e quejandos, que tanto frisson provocavam no mundo financeiro e não só.
Consta que o argumento desta saga já foi comprado por uma conhecida produtora de televisão internacional, que tenciona fazer um reality show onde os concorrentes serão os governadores dos Bancos Centrais, sendo o 1º prémio um depósito de valor não divulgado num offshore à escolha do premiado.

domingo, 28 de março de 2010

O vento desfralda as bandeiras... e despenteia as cabeças!

Será que os meninos que se divertem a hastear bandeiras azuis e brancas em locais públicos quereriam, se voltasse a monarquia, que o rei fosse quem eu estou a pensar?

Ahahahahahahahahahah!!!

Vacina contra a estupidez

Quando foi inventada a vacina contra a estupidez, as autoridades de saúde pública compraram umas centenas de milhares de doses. Mas apesar de uma campanha de divulgação massiva, os postos de vacinação continuaram praticamente desertos.
"É um bom sinal", disse o comentador.
"Bom sinal? Por quê?", inquiriu o entrevistador.
"As pessoas são estúpidas, mas não suficientemente estúpidas para admitir que o são!", esclareceu o comentador com um sorriso de auto-satisfação.

PEC

O meu PEC era outra coisa...

quinta-feira, 18 de março de 2010

No Brasil...

O conto ETERNIDADE, que apareceu em Fevereiro de 2005 no site da Épica, foi agora publicado no Contos Fantásticos, site brasileiro administrado por Afonso Pereira, a quem agradeço a divulgação.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Bang nº 7

Acaba de ser publicada a Bang! nº 7 que, após uma interrupção, regressa às edições em papel.
Pode ser comprada no site da editora
Saída de Emergência.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

DESEJO INCONTROLÁVEL DE SER DONO DO MUNDO (DIDSDDM)

Personae gigantismus; Mundus dominium voluntas

Primeiro caso conhecido
Perde-se na noite dos tempos o registo do primeiro caso desta doença. Battleshout & Littleone (1953)  propuseram a teoria de que o incidente que faria despoletar a doença nas populações pré-históricas era o som de um fémur a partir qualquer outro objecto mais frágil; esta teoria foi liminarmente rejeitada por alguns participantes na conferência que também tinham visto o filme “2001 – Odisseia no Espaço”. Na sequência deste incidente, aqueles autores foram acusados de plágio e os seus nomes retirados do “Who’s Who in Medical Research”.

sábado, 16 de janeiro de 2010

Uma notícia geométrica

(modesta homenagem a Edwin Abbott, autor de Flatland)

Era um quadrado perfeito (os seus lados mediam cada um 7 centímetros, com um erro inferior a 1 micrómetro). E sendo extremamente vaidoso, estava sempre a gabar-se. O que irritava muitas outras figuras geométricas.
Um dia, à saída do livro de geometria, um gang de triângulos escalenos apanhou-o e deu-lhe um ensaio de pancada. Ficou com um lado partido e um vértice muito maltratado.
Levado ao hospital geométrico, teve azar com o médico que o atendeu na urgência, um octógono que era especialista em áreas e não em segmentos de recta, e que ao reparar o seu lado partido deixou os dois fragmentos desalinhados.
E foi assim que o quadrado perfeito passou a ser um pentágono. E ainda por cima irregular!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Open Day

“Aqui é o Departamento de Informática Neo-Cartesiana”, explicou o guia ao grupo de visitantes. “As designações obsoletas hardware e software foram abolidas e substituídas por corpo e alma. Deixou de haver engenheiros de hardware e software, há agora médicos e psiquiatras.”
Sinais de agitação surgiram no átrio da entrada. Conduzido por dois seguranças, um homem vestido de preto, com um colarinho branco e segurando debaixo do braço uma maleta cuja tampa tinha uma cruz em baixo relevo, foi rapidamente levado ao elevador e subiu com um dos guardas.
O guia dirigiu-se ao outro segurança e perguntou: “O que se passa?”
“Tivemos um alerta da Secção Fundamentalista do Departamento. Uma impressora começou a vomitar papel impresso com estranhos símbolos, e como naquela Secção não acreditam na medicina, chamaram um padre para lhe aplicar um exorcismo.”

sábado, 2 de janeiro de 2010

SOS (Sindicalismo dos Órgãos de Soberania)

Começou com os juízes. Não era bem um sindicato, era uma associação sindical, embora distinguir a diferença exija um curso de Direito.
A Assembleia da República ficou com inveja. “Então somos menos que eles?”, questionavam-se os deputados. E dito e feito: assembleia constituinte do sindicato, estatutos, direito de tendência, naturalmente, eleições dos corpos gerentes. Aprovado mais depressa do que muitas leis.
O Governo não se quis ficar atrás. Foi ainda mais rápido, porque o número de sócios era muito menor. O PM presidente, o ministro das finanças tesoureiro, um secretário de Estado a secretário – já tinha o nome – mais dois vogais e pronto. E direito de tendência, quando viesse um governo de coligação, logo se veria.
O Presidente da República é que não alinhou. Sendo o único sócio teria que acumular todos os cargos da direcção. Esqueceu o assunto e foi presidir.