quinta-feira, 23 de dezembro de 2010

O Mundo está a tornar-se um sítio perigoso!

Quando António entrou no bar e chegou junto dos outros, já sentados na mesa do costume, ainda ia ofegante:
"Fui atacado por um mercado!"
"Já não se pode andar na rua, coño", exclamou Pablo. "E conseguiste escapar?"
"Ameacei-o com a China, e ficou hesitante. Safei-me com um juro de 3,75% a médio prazo."
"Não foi mau, dadas as circunstâncias", concedeu Pablo. "Mas ouve só o que aconteceu aoKonstantinos."
O grego deu um gole na cerveja e começou a contar:
"Naquela zona mais escura da rua saiu-me ao caminho uma agência de rating. Queria baixar-me o rating para BB+, vejam só."
"E tu?"
"Apontei-lhe umas Eurobonds e ela (ou ele, não cheguei a perceber...) vacilou..."
"Mas as Eurobonds ainda não existem..."
"Pois não, mas o tipo (ou a tipa) estava ganzado, devia ter acabado de snifar coca, e no escuro um molho de contas por pagar passa perfeitamente por Eurobonds..."
Gargalhada geral em volta da mesa.
"Isto está a ficar perigoso", lamentou-se Patrick, o irlandês. "Os piratas já atacam em qualquer sítio. E os nossos chefes não fazem nada!"
"Eles estão feitos com os piratas, meu! Se não, por que é que deixam abertos os paraísos fiscais onde os tipos podem ir descansar entre os assaltos? Mercados, agências, é tudo a mesma mafia!"
O desalento espalhou-se à volta da mesa.
E em contraste com o ambiente acolhedor do bar, lá fora, na noite, sentia-se a presença dos predadores, vagueando, à espera...

domingo, 19 de dezembro de 2010

Perder a fé é muito triste...

Eleutério era um crente convicto. Acreditava no deus Mercado e seguia religiosamente os conselhos que lhe eram dados pelo seu banco, mediador entre ele próprio e a divindade. Mesmo quando as aplicações que o banco lhe aconselhava davam prejuizo, Eleutério ainda agradecia ao Mercado que o prejuizo não tivesse sido maior.
Alguns dos seus amigos e colegas eram clientes de outros bancos. A esses, Eleutério tentava por vezes aliciar para aderirem ao seu, mas face ao insucesso do seu proselitismo, consolava-se com a ideia de que, ao fim e ao cabo, todos adoravam o mesmo deus.
A fé de Eleutério começou a vacilar quando tomou consciência de que a sua antiga religião, tradicional e confiável, monoteísta, tinha dado lugar a uma outra, instável, volúvel, imprevisível, politeísta. Já não era "o Mercado", mas sim "os mercados".
E quando descobriu que os mercados pressionavam, exploravam, podiam levar empresas e países à bancarrota, provocando a ruína de milhões de pessoas, Eleutério perdeu a fé por completo.
No dia seguinte a essa epifania de sinal menos, Eleutério dirigiu-se ao banco, e como primeira atitude do seu recentemente adquirido estatuto de ateísmo militante, levantou até ao último cêntimo todo o dinheiro que tinha na conta, levou-o para casa e escondeu-o debaixo do colchão.

quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Prémio Dardos


A Luísa do blogue À ESQUINA DA TECLA, que já figurava aqui na lista ao lado, atribuiu-me o Prémio Dardos, o que muito agradeço.

Na sua definição,

"O Prémio Dardos é o reconhecimento dos ideais que cada blogueiro emprega ao transmitir valores culturais, éticos, literários, pessoais, etc.... que, em suma, demonstrem a sua criatividade através do pensamento vivo que está e permanece intacto entre as suas letras e as suas palavras. Estes selos foram criados com a intenção de promover a confraternização entre blogueiros, uma forma de demonstrar o carinho e reconhecimento por um trabalho que agregue valor à Web."

Cabe-me agora nomear 10 blogues aos quais reconheço as características que o prémio pretende distinguir. Haveria mais, mas esse é o problema de todas as selecções. Uns actualizados com mais frequência, outros nem tanto, esta lista documenta também a (demasiada?) dispersão dos meus interesses e afectos.

E sem mais justificações, por ordem desordenada, aqui vão:


Estrada de Santiago

Moura Aveirense

Rua dos Dias que Voam

Que Treta!

De Rerum Natura

Pó dos livros

Montag By their covers

Efeitos Secundários

A namorada de Wittgenstein