Perder a fé é muito triste...
Eleutério era um crente convicto. Acreditava no deus Mercado e seguia religiosamente os conselhos que lhe eram dados pelo seu banco, mediador entre ele próprio e a divindade. Mesmo quando as aplicações que o banco lhe aconselhava davam prejuizo, Eleutério ainda agradecia ao Mercado que o prejuizo não tivesse sido maior.Alguns dos seus amigos e colegas eram clientes de outros bancos. A esses, Eleutério tentava por vezes aliciar para aderirem ao seu, mas face ao insucesso do seu proselitismo, consolava-se com a ideia de que, ao fim e ao cabo, todos adoravam o mesmo deus.
A fé de Eleutério começou a vacilar quando tomou consciência de que a sua antiga religião, tradicional e confiável, monoteísta, tinha dado lugar a uma outra, instável, volúvel, imprevisível, politeísta. Já não era "o Mercado", mas sim "os mercados".
E quando descobriu que os mercados pressionavam, exploravam, podiam levar empresas e países à bancarrota, provocando a ruína de milhões de pessoas, Eleutério perdeu a fé por completo.
No dia seguinte a essa epifania de sinal menos, Eleutério dirigiu-se ao banco, e como primeira atitude do seu recentemente adquirido estatuto de ateísmo militante, levantou até ao último cêntimo todo o dinheiro que tinha na conta, levou-o para casa e escondeu-o debaixo do colchão.
2 comentários:
Que história tão triste.... chuifff....
e assim estamos nós de Natal.... sem fé... nos mercados!!! :-)
Já não posso ouvir a palavra "mercados"... grrrr!
Boa história, como sempre.
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