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domingo, 10 de julho de 2011

A taxa de desemprego

Um comunicado do IEFP esclarece que o súbito agravamento da taxa de desemprego é devido à cessação de actividade de um elevado número de pessoas cujo "core business" consistia em dizer mal do ex-primeiro ministro José Sócrates.
Muitos destes recém-desempregados têm feito fila à porta dos Centros de Emprego, mas o IEFP comunica que ainda não abriram vagas para, de forma massiva, dizer mal do novo primeiro ministro Pedro Passos Coelho. Esses postos de trabalho serão criados logo que termine o "estado de graça" e nessa altura o Instituto divulgará esse facto através de Edital.
Foram recentemente criados alguns empregos para dizer mal das agências de rating. Os candidatos tiveram que frequentar um curso de formação, mas as poucas vagas foram rapidamente preenchidas por políticos, comentadores encartados, jornalistas e outros profissionais do mesmo tipo. Consta que o curso de formação foi muito exigente (rotações de 180º são sempre difíceis de interiorizar), mas como pode ser verificado na generalidade dos meios de comunicação social, todos os alunos passaram com excelente aproveitamento.

quarta-feira, 6 de julho de 2011

À atenção do ministro Nuno Crato


Exmo senhor ministro
É um facto conhecido que os docentes do ensino superior se queixam com frequência do tempo gasto na avaliação dos alunos: trabalhos, seminários, apresentações, testes, exames (1ª época, 2ª época, época especial)...
Os recentes acontecimentos na cena político/económica envolvendo a queda do rating da República deram-me uma ideia que poderá solucionar aquele problema. Em vez de classificar os trabalhos e exames, os professores emitirão a sua "opinião" sobre o aluno, qualquer coisa nestes termos: "independentemente do que aqui está", e poderão apontar com um dedo displicente para a pilha de trabalhos e testes produzidos pelo aluno, "tenho um feeling que você não vai conseguir passar de ano, e portanto leva um 9. E tome nota que fica com um outlook negativo, portanto fique à espera de um 6 ou 7 para a próxima."
Veja-se o tempo poupado ao sobrecarregado dia de trabalho de um docente!
E a cereja no topo do bolo é que os alunos terão de pagar para os docentes emitirem essa "opinião" baseada nesse feeling, resolvendo assim em simultâneo dois problemas crónicos: a sobrecarga dos professores e o subfinanciamento das instituições.
Naturalmente que, vivendo nós neste financeirismo totalitarista em que tudo tem um preço, tenho a expectativa de ser recompensado por esta ideia brilhante, por exemplo na forma de uma percentagem (a negociar) dos ganhos financeiros das instituições que adoptarem esta nova metodologia, da qual já submeti o respectivo pedido de patente.

Com as mais cordiais saudações académicas

quinta-feira, 15 de julho de 2010

A crise no meu bairro

Xico Melenas, nado e criado no bairro, era a agência de rating local, informando o Joaquim da mercearia Pérola da Travessa e o Antunes da leitaria Alvorada sobre a capacidade de endividamento dos vizinhos.
A crise rebentou naquela manhã em que o Zé Grande entrou na leitaria e pediu um bagaço.
“Não te posso fiar mais”, disse o Antunes.
“E por quê?”
“A tua notação baixou de AA+ para BB-.”
Zé Grande largou um palavrão, virou costas e saiu desembestado.
Coisas do destino: à saída da leitaria quase choca com o Xico. Sem aviso, com a raiva acumulada da ressaca, deu-lhe um murro que o deitou ao chão, agarrado ao nariz que sangrava. E avisou-o:
“Se tornas a baixar-me a notação, levas dois!”
Agora o Xico lamenta-se a quem o quer ouvir que um bairro tão atrasado ainda não está preparado para o capitalismo moderno.


A presente fábula ficou entre os 10 seleccionados (para além dos 2 premiados)  do Concurso de mini-contos (150 palavras) IST Tagus Park, realizado com a colaboração da Simetria. Qualquer sugestão de transposição para a realidade "real" é da responsabilidade exclusiva do leitor.