terça-feira, 20 de maio de 2014

A PARTÍCULA DE DEUS

Meu querido neto
Sabes que nunca apreciei o facto de não estudares Direito como o teu avô e o teu pai e teres antes escolhido Física, actividade que sempre vi como um pouco estranha e sem utilidade.
Fiquei contente quando arranjaste esse trabalho no CERN, embora continuasse sem perceber a necessidade de construir máquinas tão caras para partir átomos.
Mas o que hoje li no jornal fez-me reconsiderar a minha atitude. Vem na primeira página, em letras garrafais: "No acelerador gigante, cientistas procuram a partícula de Deus".
Como São Paulo, subitamente vi a luz!
Junto envio uma caixinha em madeira, com o interior forrado de veludo vermelho. Queria pedir-te para meteres lá dentro uma partícula de Deus e me enviares a caixinha de volta. Quero juntá-la às outras relíquias na capela da casa: o fragmento do Santo Lenho, o pedacinho da tíbia de São Francisco, a madeixa do cabelo de Maria Madalena, e o farrapo do hábito da mártir Santa Úrsula, trazidas pelo teu avô das suas andanças pelo mundo. Embora livre-pensador era um bom homem!
Faz esse favor à tua avó, que nunca se esquece de ti nas suas orações.
Um grande beijo.