domingo, 5 de fevereiro de 2006

Narciso


Narciso cansou-se de se mirar em charcos e ribeiros. Tornou-se urbano e arranjou um emprego. Polidor de espelhos!
O patrão estava feliz. Nunca lhe tinha aparecido um empregado apaixonado pelo trabalho. Até fazia horas extraordinárias de graça!
Um dia Narciso fez uma experiência. Esperou com ansiedade pela saída dos restantes empregados e do patrão. Pegou nos últimos dois espelhos que tinha polido, cada um com dois metros de altura por um de largura (encomendados por uma loja de pronto-a-vestir) e posicionou-os em frente um do outro, as superfícies tão paralelas quanto possível. Descalçou os sapatos e as meias, despiu a roupa e, completamente nu, colocou-se no meio dos espelhos.
Quando olhou a sua imagem multiplicada até ao infinito, uma onda de prazer com uma intensidade que não supunha possível fez vibrar cada nervo do seu corpo, fez ressoar cada neurónio do seu cérebro...
Morreu de overdose.

1 comentário:

João Ventura disse...

Obrigado, em meu nome e de Narciso :)