quinta-feira, 6 de abril de 2006

A consciência

Foi durante o período antes da ordem do dia que o deputado deu por falta da sua consciência. Procurou nos bolsos, na pasta, mas não a encontrou. Ficou preocupado.
Na primeira oportunidade, saiu do hemiciclo e foi à secção de perdidos e achados. Perguntou ao funcionário se alguém teria encontrado uma consciência. Fizeram-no entrar pela porta ao lado do guichet e levaram-no a um compartimento onde havia guarda-chuvas, telemóveis, muitos dossiers, muitos envelopes A4 de papel castanho, e numa prateleira ao fundo algumas consciências.
- Essas estão aí porque os donos nunca vieram procurá-las.
O deputado observou mas nenhuma era a sua. Notou no chão uma caixa fechada. Perante o seu olhar interrogativo, o funcionário disse:
- Aí dentro estão vergonhas. Há pessoas que perdem a vergonha. E nunca vêm cá à procura dela. Vergonhas e consciências que não são reclamadas, ao fim de um ano são incineradas.
O deputado apalpou o bolso e suspirou aliviado. Ainda tinha a sua vergonha. O problema era a consciência.
Agradeceu ao funcionário e saiu à procura, pensando onde diabo poderia ter deixado a consciência.

3 comentários:

João Ventura disse...

E lembras bem :)
Como acabo de saber que a ideia de publicar o livro foi abandonada, resolvi arejá-lo...

C. disse...

gostei deste texto. simples e no entanto verdadeiro, sem dúvida alguma! já fiquei com algo para reflectir ao longo do dia de hoje...

João Ventura disse...

Obrigado, Safiya, mas não penses muito nisso porque podes entrar em depressão...:)