quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

 Em reposição:

THE END

O primeiro, que era um pessimista, disse: Isto é o princípio do fim!
O segundo, que era um optimista, respondeu: Não, é apenas o fim do princípio...
O terceiro, que tinha andado a ler um livro de estórias zen, concluiu: Seja lá o que for, vamos mas é jantar!

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

A última badalada

Para o senhor Antunes, a Dona Joaquina era como se fizesse parte da mobília. Lembrava-se dela quando vinha ao escritório pela mão do pai, e agora ali estava ele, Chefe de Secção, já próximo da reforma, e ela sempre com a mesma bata aos quadrados, o cabelo enrolado num carrapito, a vassoura e o pano do pó nas mãos.
O dia ia decorrendo na modorra habitual quando começaram a bater as badaladas do meio-dia no velho relógio de parede. Era um relógio de pêndulo, muito preciso, e Vicente, o segundo escriturário, era quem tinha por missão dar-lhe corda duas vezes por semana. Ao soar a última badalada, as luzes acenderam e apagaram, os telefones tocaram ao mesmo tempo, o telex começou a martelar, e a chaleira na mesa do canto a apitar. Depois ficou tudo em silêncio e ouviu-se uma voz: “Luciva, a pena de exílio a que foste condenada terminou. Espero que tenhas aprendido com este castigo. Podes voltar para junto de nós.”
Ouvindo estas palavras, Dona Joaquina gritou “Yesssss!”, cavalgou a vassoura, voou duas voltas ao escritório e saiu pela janela que se tinha aberto sozinha para lhe dar passagem.
Todos os funcionários ficaram de boca aberta. E Antunes começou a pensar como iria explicar ao Esteves da Secção de Pessoal o desaparecimento de uma funcionária…

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Centenário do nascimento de Júlio Cortázar

Um fragmento (página 20) do seu livro "O Jogo do Mundo" ( Rayuela )


"(…) os espelhos de cinza Vieira da Silva, um mundo onde te movias como um cavalo de xadrez que se move como uma torre que se move como um bispo."


e uma foto que o ilustra (clique para ampliar).


Uma exposição com fotografias alusivas a textos de Cortázar, resultado de um concurso promovido pelo Forum Fantástico em colaboração com a Cavalo de Ferro e a Sony Portugal, está patente na Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro até ao fim do mês de Novembro.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

ULTIMA HORA!

Antecipando a entrada em vigor do Acordo de Parceria Transatlântico, que está a ser secretamente negociado entre a U.E. e os E.U.A., o Provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa anunciou que vai processar o(a) reclamante do prémio de 190 milhões de euros de um recente sorteio do Euromilhões.
“Com esta reclamação, o(a) reclamante prejudicou a Santa Casa na sua expectativa de lucros futuros, que obteria na ausência de reclamação”, afirmou o Provedor da SCML numa conferência de imprensa sem direito a perguntas. E acrescentou:
“Além do valor do prémio em referência, está também em causa a despesa incorrida pela Santa Casa por um parecer encomendado a uma Sociedade de Advogados sobre a possível isenção do pagamento pela SCML do imposto de 20% sobre o valor total do prémio.”
Reina a expectativa entre os Departamentos de Direito de todas as universidades, profissionais do foro, executores fiscais e outros curiosos sobre os possíveis desenvolvimentos da situação.

domingo, 28 de setembro de 2014

TPC

Voltei aos tempos dos TPCs.
Comecei a ler Wonderbook do Jeff Vandermeer, e decidi fazer os exercícios que por lá estão espalhados.





Na página 25, apareceu o seguinte desafio:




E aqui está o que saiu:

The singing fish

The parrots came to me with the news: the fish was singing. At first I didn't believe; the parrots are always gossiping! But they insisted, so I went with them to check.
And there he was, singing from Verdi's Rigoletto, La donna e mobile!
I was a bit worried because he is our only source of ink, and it would be difficult to find another ink provider at a short notice.
But when I became aware of his continuous struggle with the vowels, and specially that his sharp C was horribly out of tune, I relaxed: no reputable Opera Theater would hire him, not even for the chorus...

quarta-feira, 27 de agosto de 2014

A Lei da Cópia Privada e Chico Liberdade

A discussão da Lei da Cópia Privada arrastava-se na Assembleia da República. Intervenções a favor dos partidos da maioria, intervenções críticas ou muito críticas dos partidos da oposição. Nas galerias, representantes das organizações que iriam ter ganhos chorudos com a aprovação da lei sorriam uns para os outros.
Chegou a vez de o Jotinha falar. Aclarou a voz, ajeitou o microfone e começou:
“Senhora Presidente, senhor Secretário de Estado da Cultura, senhoras e senhores deputados. É minha convicção que as leis aprovadas por esta casa devem reflectir os últimos avanços da Ciência e da Técnica, pois isso só contribuirá para o prestígio deste Parlamento.”
Vozes de “Muito bem!” da bancada da maioria.
“Chegou ao meu conhecimento um artigo recentemente publicado na reputada revista científica Science – e aí a mão direita do deputado agitou no ar umas folhas de papel – onde é demonstrado que os instrumentos musicais, sejam de cordas, de percussão ou de sopro, madeiras ou metais, conservam na sua estrutura a memória das melodias que alguma vez tocaram.”
“Intitula-se o artigo” – e o deputado leu com sotaque algo aportuguesado – “Are materials able to store sounds? Detection through laser interferometry and atomic force microscopy of acoustic wave imprint patterns in different materials. Embora me considere um leigo em acústica, inter-fe-ro-me-tria laser e outras matérias mencionadas neste artigo, a sua conclusão parece-me definitiva: os instrumentos musicais memorizam sons, logo têm a possibilidade de armazenar o trabalho dos artistas, logo, por extensão, também estes instrumentos deverão estar sujeitos a uma taxa no âmbito da lei ora em discussão.”
A intervenção foi saudada com alguns acenos de cabeça aprovadores por deputados da maioria, com alguns risos por parte da oposição, mas o líder parlamentar do maior partido de apoio ao governo não quis deixar passar a oportunidade e pedindo a palavra, disse:
“Muito obrigado, senhor deputado, pela sua tão pertinente achega à matéria em discussão. Penso que a sua sugestão poderá ser acolhida em sede de discussão na especialidade, e dessa forma contribuir para a melhoria do diploma em discussão.”

--- xxx ---

A sessão já tinha terminado e um grupo de deputados dirigia-se ao Café de São Bento para almoçar. Nesse grupo, o Jotinha gozava dos seus cinco minutos de fama, rindo e aceitando os cumprimentos dos seus colegas de bancada.
Pelo mesmo passeio, em sentido oposto, caminhava Chico Liberdade, baladeiro e cantor de rua. Tinha estado a ver o canal Parlamento, porque as questões relacionadas com a Lei da Cópia Privada lhe interessavam por razões tanto profissionais quanto de cidadania.
Os seus ténis, que já viram melhores dias, levam-no numa trajectória de intersecção com os sapatos pretos bem engraxados do deputado.
Chico Liberdade levanta os olhos e vê a cara de auto-satisfação do Jotinha. Sente uma raiva a crescer-lhe nos dentes como na canção do Zé Mário Branco que canta com frequência. Sem mais, pega na viola pelo braço, dá-lhe balanço, a viola descreve um arco e vai embater com força na cabeça do deputado, que afunda lentamente, aturdido, e fica sentado no chão. O som da pancada foi estranho, mistura da percussão seca da caixa com uma espécie de acorde causado pela vibração simultânea das seis cordas. Enquanto os colegas socorrem o Jotinha, Chico Liberdade ainda lhe diz:
“Se te lembrares desta pancada é sinal que tens memória, e também vais ter que pagar taxa. Mas como só tens dois neurónios e meio, estás no primeiro escalão da capacidade de armazenagem e pagas pouco.”
E vai-se embora sem olhar para trás. Quando um dos colegas do Jotinha se lembra de chamar a polícia já Chico Liberdade desapareceu, dobrando a esquina e seguindo pela travessa mais próxima.

quinta-feira, 26 de junho de 2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

SÓLO CULTURA, SÓLO CULTURA, ¡QUE ABURRIDO!

Aníbal, mi vecino, estaba aún más enojado que de costumbre.
- ¿Sabes a qué hora pasaron ayer los resúmenes de los partidos de primera? A las dos de la mañana! Yo tengo mis derechos, también pago impuestos! Y no puedo ver lo que me gusta... He visto una entrevista con el ministro de cultura, una película de un autor oscuro, un programa sobre el lince ibérico, y ni siquiera una pequeña noticia sobre el futbol...
Entramos al café “Antonio", pedimos dos cafés solos, y Aníbal se fue al extremo del mostrador, donde están los periódicos. Los miró y preguntó al camarero:
- ¿Paco, donde está La Bola?
- Mi jefe dejó de comprar ese periódico, señor Aníbal. Son pocos los clientes que lo piden...
Aníbal echaba humo!
- ¿Ves? Hasta Antonio ... - y furioso, me mostró el Jornal de Letras, Le Monde Diplomatique , suplementos culturales ... - Sólo la mierda, hombre - concluyó, bajando la voz para evitar las miradas de desaprobación de algunos clientes.
Pagamos los cafés y salimos, él a la estación de metro y yo a la parada del autobús. Pasamos el quiosco de los periódicos. Aníbal no es de los que se rinden fácilmente.
- Buenos días, señor Fernando. Tiene La Bola?
- Ahora solo vienen tres ejemplares de La Bola, y la mayoría de las veces no se venden... ¡Aquí está!
Aníbal colocó el periódico doblado dentro del bolsillo interior de su gabardina. Se despidió y se fue a tomar el metro.
Cuando entró en el vagón, se sentó y miró a su alrededor. En el asiento delantero, un hombre leía La insoportable levedad del ser de Milan Kundera, y una mujer, Ficciones, de Borges. El joven en el asiento de al lado leía poesía. Al otro lado del pasillo, un adolescente estaba leyendo un libro con el título La Filosofía Griega. Aníbal abrió su libro, forrado con papel marrón opaco, para evitar las miradas condescendientes de los demás pasajeros, y se sumergió en la lectura de La Magia del Futbol...

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Esta foi a minha contribuição para a antologia

Futbol en breve - Microrrelatos de jogo bonito

editada no México por Aldo Flores. Carregue no link para aceder.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O deus das palavras

O deus das palavras focou a sua atenção no monitor sobre o qual piscava uma luz vermelha. Sabia o que isso significava: havia alterações substanciais na frequência de uso de uma ou mais palavras.
A sua função era precisamente verificar que as palavras de uma dada língua eram utilizadas apropriadamente. Pela lei dos grandes números isto levava a que as palavras utilizadas seguissem uma determinada distribuição estatística.
O deus das palavras ainda se lembrava de quando este processo de monitorização era feito por um batalhão de sub-deuses, tomando nota manualmente de todas as palavras utilizadas e calculando penosamente as estatísticas usando ábacos. Agora, depois de implementada a informatização dos serviços, o trabalho é muito mais fácil. O deus das palavras e dois sub-deuses adjuntos conseguem dar conta do recado.
O deus das palavras dirige-se ao monitor que accionou o alarme e observa com atenção. Verifica as palavras que estão a ser utilizadas com uma frequência acima do seu valor normal: “empreender” e seus derivados (“empreendedor”, “empreendedorismo”, etc.), “competitividade”, “produtividade”, “ajustamento”. Reconhece que são palavras pertencentes ao dialecto economês. Chama um dos adjuntos e diz-lhe para manter aquele monitor sob vigilância.
No dia seguinte, o sub-deus informa-o que a utilização das palavras referidas subiu duas ordens de grandeza. O deus das palavras irrita-se e a cólera dos deuses pode ser terrível. Senta-se ao terminal, acede à base de dados que contém todas as palavras, e apaga as palavras violadoras da distribuição estatística. Com um sorriso raivoso, comenta para o seu adjunto: “Já está!”
As consequências no país em causa foram tremendas. Os discursos políticos ficaram com o aspecto de uma manta esburacada. Quando anteriormente um político dizia: “É necessário o empreendedorismo para aumentar a competitividade e a produtividade do país”, agora saía-lhe da boca para fora: “É necessário o [          ] para aumentar a [         ] e a [          ] do país”.
O deus das palavras apenas levou dois dias pensando que tinha reposto a regularidade estatística. Essa sua satisfação terminou com um novo alarme a soar no mesmo monitor. As palavras cujas frequências de utilização tinham agora disparado eram “Palhaço!” e “Rua!”

terça-feira, 20 de maio de 2014

A PARTÍCULA DE DEUS

Meu querido neto
Sabes que nunca apreciei o facto de não estudares Direito como o teu avô e o teu pai e teres antes escolhido Física, actividade que sempre vi como um pouco estranha e sem utilidade.
Fiquei contente quando arranjaste esse trabalho no CERN, embora continuasse sem perceber a necessidade de construir máquinas tão caras para partir átomos.
Mas o que hoje li no jornal fez-me reconsiderar a minha atitude. Vem na primeira página, em letras garrafais: "No acelerador gigante, cientistas procuram a partícula de Deus".
Como São Paulo, subitamente vi a luz!
Junto envio uma caixinha em madeira, com o interior forrado de veludo vermelho. Queria pedir-te para meteres lá dentro uma partícula de Deus e me enviares a caixinha de volta. Quero juntá-la às outras relíquias na capela da casa: o fragmento do Santo Lenho, o pedacinho da tíbia de São Francisco, a madeixa do cabelo de Maria Madalena, e o farrapo do hábito da mártir Santa Úrsula, trazidas pelo teu avô das suas andanças pelo mundo. Embora livre-pensador era um bom homem!
Faz esse favor à tua avó, que nunca se esquece de ti nas suas orações.
Um grande beijo.

sexta-feira, 18 de abril de 2014

Uma lista... com apreciações minimalistas...

Em 2006, Sergio vel Hartman pediu uma lista intitulada "Mis cinco libros". Para marcar o carácter não absoluto destas escolhas, alterei ligeiramente o título e enviei-lhe "Cinco de mis libros", que são os primeiros cinco da presente lista.
No mês passado, foi o Artur Coelho a passar-me uma solicitação de 15 livros. Peguei na lista que tinha guardada e acrescentei-lhe mais dez. E aqui fica a lista de 15 livros (que amanhã, no mês que vem ou no próximo ano não seria certamente a mesma) "para memória futura".


Fundação (trilogia inicial) – Isaac Asimov
O conceito da psicohistória: a sociologia tornada uma ciência experimental. A transposição da evolução dos grandes impérios do passado (ascensão e queda) para a escala da galáxia.

Earth-Sea (Terra-mar) – Ursula Le Guin
Muitos anos antes do “fenómeno Harry Potter” mas com uma riqueza muito superior. A magia como parte integrante do tecido social, a noção de equilíbrio do mundo que não deve ser alterado, a palavra como transformadora da realidade.

Dune – Frank Herbert
Uma história que se entretece com a ecologia à escala planetária. O messianismo e o poder político num jogo de xadrez mortal em que as peças são planetas.

As cidades invisíveis – Italo Calvino
As conversas entre Marco Polo e Kublai Kan fazem vibrar algumas fundações das nossas estruturas mentais, lembram-nos que a realidade que vemos é muitas vezes um cenário e que quando esse cenário é rasgado, o que aparece por detrás pode ser outro cenário...

Memorial do convento – José Saramago
Uma panorâmica sobre o tempo de D. João V, e da sua filha que foi a causa da construção do convento de Mafra, e do padre Bartolomeu de Gusmão que construiu uma máquina que voava devido à magia de Blimunda, que conseguia ver o interior das pessoas... Para ler ao som de uma sonata de Scarlatti, que também lá aparece...

The book thief (A rapariga que roubava livros) - Markus Zusak
Um livro que me emocionou. Um livro sobre livros, sobre a guerra, vista do lado perdedor, onde o narrador é a Morte. E onde se vê para que pode servir um exemplar do Mein Kampf...

Embassytown - China Miéville
Onde aparecem "aliens" verdadeiramente "aliens", e não humanos com tentáculos ou de outra cor ou... (estão a ver a ideia).

City of Saints and Madmen - Jeff Vandermeer
Depois de o ler, nunca mais comerão cogumelos ou polvo com o mesmo à vontade...

A Sombra do Vento - Carlos Ruiz Zafón
Um livro sobre livros e mais coisas, em Espanha, durante a noite negra do franquismo.

Neverwhere - Neil Gaiman
Um guia "fantástico" para as estações de Metro de Londres...

Directa - Nuno Bragança
Para os que não viveram "os tempos da outra senhora", pode dar uma ideia de como as coisas se passavam no Portugal salazarento...

Os livros que devoraram o meu pai - Afonso Cruz
Mais um livro sobre livros... Que querem, é uma pancada minha!

Forças do Mercado - Richard Morgan
"The shape of things to come"... só que muitas já chegaram!

The Hunting of the Snark - Lewis Carrol
Um clássico do "nonsense", pelo autor da Alice... e de alguns livros de matemática!

E para acabar uma BD:
A febre de Urbicanda  - Schuiten & Peeters
Indescritível! Tem mesmo que ser lido/olhado.
Da série "As Cidades Obscuras", que se recomenda na totalidade.

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014

Cenas bíblicas (1)

Pedro passava os seus Passos pelo mundo, debitando parábolas (quando não hipérboles) a fiéis e gentios, indistintamente.
“Em verdade vos digo: ficai pobres, porque só assim atingireis a salvação!”
“Andastes a viver acima das possibilidades, agora apanhai migalhas; ou com sorte, um carrito de gama alta!”
“Tendes que vos convencer que só alguns, os predestinados empreendedores, podem ir ao pote.”
“O país é como um navio, eu sou o timoneiro, o rumo está traçado, navegamos em direcção à terra prometida, não temos culpa que a maior parte de vós se tenha alojado no porão, onde há ratos e baratas; os escolhidos habitam no convés, sentindo na face a brisa perfumada do sucesso.”
Passeava ele por estas metáforas quando lhe vieram dizer:
“Pedro, o teu companheiro Miguel está morto!”
“Morto! Mas como assim, se ainda há pouco tempo ele estava rubicundo como um tomate, cantarolando a “Grândola vila morena”? E de que morreu?”
“Consta que de apoplexia. Tentou comer uma licenciatura de uma só vez, mas engasgou-se com as últimas quatro cadeiras…”
“Levai-me até ele”, disse Pedro, e assim foram.
“Miguel, levanta-te e anda!”
E Miguel levantou-se e andou, e Pedro conduziu-o até à cabeceira da lista para o Conselho Nacional.
Quando o povo viu isto, muitos murmuraram, mesmo entre os fiéis reunidos no Sinédrio, e diziam em voz baixa:
“Mas quem se julga ele para andar a ressuscitar mortos ao sábado?”
“Vamos fazer-lhe sentir que não é dono disto tudo! Que tem que contar com a opinião dos fiéis! Vamos fazer muitas listas para o Conselho Nacional!"
E foram 9 as listas.
E quando a lista de Pedro obteve apenas 25,7 por cento dos votos, ( 18 em 52 mandatos), quase todos, fiéis e gentios, no segredo dos seus corações, se regozijaram.

terça-feira, 18 de fevereiro de 2014

Divergência

Um pequeno grupo, no meio do continente que mais tarde viria a ser chamado África. Providos de cérebro, mãos e curiosidade. Construídos à sua “imagem e semelhança”.
Preparado um ambiente com predadores e presas, pressão necessária e suficiente para evoluirem, deixá-los desenvolver-se, crescer e multiplicar-se. Forçados a mover-se quando os recursos numa região se tornam escassos. Divergência.
Vagas sucessivas vão-se dispersando por um planeta vazio de homens. E seguem para Leste e espalham-se pela Ásia, e avançam para Norte e ocupam a Europa, e da Ásia passam à América. E esquecem-se, e descobrem-se. Com intervalos de séculos, surgem por vezes grandes impérios, cuja expansão transporta no ventre as sementes de mais divergência. Impérios que terminam por assassinato dos líderes, ou por revoltas das periferias contra o poder central, ou por razões ainda mais prosaicas como uma epidemia de propagação rápida e consequências mortais. Guerras em que se exterminam com maior ou menor eficiência. Mais divergência…
Mas a convergência parece fazer parte da matriz primeva: a família, a tribo, a região, a nação… E surge a Sociedade das Nações. E as Nações Unidas. A União Europeia. A Organização Pan-Africana. A União das Américas. A Confederação Asiática. As redes informáticas criando a consciência global. A instauração de um Governo Mundial…

— X —

O Mestre dá a aula como terminada. “Já passaram dois milhões de anos”, justifica. Vai de deus em deus observar o trabalho realizado.
“Yahweh, o que é que temos aqui?”. Observa o planeta e franze o sobrolho. “O objectivo era a divergência! E tu não conseguiste evitar a convergência! Mau trabalho, Yahweh!”
Os outros deuses entreolham-se, um pouco surpreendidos pela veemência do Mestre.
“É absolutamente imprescindível evitar o aparecimento da convergência. Porque a ela se segue a emergência. E emerge em direcção à singularidade. E se chega à singularidade, a humanidade atingirá o nível dos deuses. E nós não queremos isso!”
“ Destroi tudo o que fizeste. Vou arranjar outro planeta para começares de novo…”

Seguindo as ordens do Mestre, Yahweh dá início ao Apocalipse.


segunda-feira, 3 de fevereiro de 2014

A Faustian Unbargain

Este foi o título com que ficou, no número 559 de Bewildering Stories, uma história intitulada "Como afinal Fausto não vendeu a alma ao Diabo (mas esteve quase...)", publicada neste blogue em Março de 2013. O texto própriamente dito não encurtou... pelo contrário, até aumentou um pouco na tradução...

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Efemérides

Este blogue fez oito anos no sábado passado.
O tempo passa e os aniversários já não são o que eram...