quinta-feira, 10 de maio de 2007

Arquivo morto

Quando pela terceira vez naquele dia o chefe o mandou ao arquivo morto buscar uns documentos, Antunes começou a desconfiar. No dia seguinte, iniciou a elaboração de um registo, tarefa facilitada pela posição da sua secretária junto da porta da escada de serviço que conduzia, dois pisos abaixo, ao referido arquivo. Na sexta-feira à tarde, consultando o seu registo, apurou que, ao longo da semana, o Fernandes tinha lá ido cinco vezes, o Fonseca quatro, o Mendes seis, e o resto da lista apresentava números semelhantes. O próprio chefe tinha ido ao arquivo morto duas vezes, provavelmente à procura de documentos de carácter mais reservado.
Perante esta evidência, Antunes só conseguiu chegar a uma conclusão: o arquivo morto não estava morto!
Antunes era um funcionário cumpridor. Claro que era capaz de dar uma olhadela à Internet nas horas de trabalho, ou de meter ao bolso uma borracha ou uns clips para levar para casa, mas em questões importantes era de uma exemplaridade exemplar. E perante este problema de um arquivo morto que afinal se encontrava bem vivo, só conseguia ver uma saída.

(continua...)

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