quinta-feira, 26 de junho de 2014

quarta-feira, 25 de junho de 2014

SÓLO CULTURA, SÓLO CULTURA, ¡QUE ABURRIDO!

Aníbal, mi vecino, estaba aún más enojado que de costumbre.
- ¿Sabes a qué hora pasaron ayer los resúmenes de los partidos de primera? A las dos de la mañana! Yo tengo mis derechos, también pago impuestos! Y no puedo ver lo que me gusta... He visto una entrevista con el ministro de cultura, una película de un autor oscuro, un programa sobre el lince ibérico, y ni siquiera una pequeña noticia sobre el futbol...
Entramos al café “Antonio", pedimos dos cafés solos, y Aníbal se fue al extremo del mostrador, donde están los periódicos. Los miró y preguntó al camarero:
- ¿Paco, donde está La Bola?
- Mi jefe dejó de comprar ese periódico, señor Aníbal. Son pocos los clientes que lo piden...
Aníbal echaba humo!
- ¿Ves? Hasta Antonio ... - y furioso, me mostró el Jornal de Letras, Le Monde Diplomatique , suplementos culturales ... - Sólo la mierda, hombre - concluyó, bajando la voz para evitar las miradas de desaprobación de algunos clientes.
Pagamos los cafés y salimos, él a la estación de metro y yo a la parada del autobús. Pasamos el quiosco de los periódicos. Aníbal no es de los que se rinden fácilmente.
- Buenos días, señor Fernando. Tiene La Bola?
- Ahora solo vienen tres ejemplares de La Bola, y la mayoría de las veces no se venden... ¡Aquí está!
Aníbal colocó el periódico doblado dentro del bolsillo interior de su gabardina. Se despidió y se fue a tomar el metro.
Cuando entró en el vagón, se sentó y miró a su alrededor. En el asiento delantero, un hombre leía La insoportable levedad del ser de Milan Kundera, y una mujer, Ficciones, de Borges. El joven en el asiento de al lado leía poesía. Al otro lado del pasillo, un adolescente estaba leyendo un libro con el título La Filosofía Griega. Aníbal abrió su libro, forrado con papel marrón opaco, para evitar las miradas condescendientes de los demás pasajeros, y se sumergió en la lectura de La Magia del Futbol...

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Esta foi a minha contribuição para a antologia

Futbol en breve - Microrrelatos de jogo bonito

editada no México por Aldo Flores. Carregue no link para aceder.

quinta-feira, 19 de junho de 2014

O deus das palavras

O deus das palavras focou a sua atenção no monitor sobre o qual piscava uma luz vermelha. Sabia o que isso significava: havia alterações substanciais na frequência de uso de uma ou mais palavras.
A sua função era precisamente verificar que as palavras de uma dada língua eram utilizadas apropriadamente. Pela lei dos grandes números isto levava a que as palavras utilizadas seguissem uma determinada distribuição estatística.
O deus das palavras ainda se lembrava de quando este processo de monitorização era feito por um batalhão de sub-deuses, tomando nota manualmente de todas as palavras utilizadas e calculando penosamente as estatísticas usando ábacos. Agora, depois de implementada a informatização dos serviços, o trabalho é muito mais fácil. O deus das palavras e dois sub-deuses adjuntos conseguem dar conta do recado.
O deus das palavras dirige-se ao monitor que accionou o alarme e observa com atenção. Verifica as palavras que estão a ser utilizadas com uma frequência acima do seu valor normal: “empreender” e seus derivados (“empreendedor”, “empreendedorismo”, etc.), “competitividade”, “produtividade”, “ajustamento”. Reconhece que são palavras pertencentes ao dialecto economês. Chama um dos adjuntos e diz-lhe para manter aquele monitor sob vigilância.
No dia seguinte, o sub-deus informa-o que a utilização das palavras referidas subiu duas ordens de grandeza. O deus das palavras irrita-se e a cólera dos deuses pode ser terrível. Senta-se ao terminal, acede à base de dados que contém todas as palavras, e apaga as palavras violadoras da distribuição estatística. Com um sorriso raivoso, comenta para o seu adjunto: “Já está!”
As consequências no país em causa foram tremendas. Os discursos políticos ficaram com o aspecto de uma manta esburacada. Quando anteriormente um político dizia: “É necessário o empreendedorismo para aumentar a competitividade e a produtividade do país”, agora saía-lhe da boca para fora: “É necessário o [          ] para aumentar a [         ] e a [          ] do país”.
O deus das palavras apenas levou dois dias pensando que tinha reposto a regularidade estatística. Essa sua satisfação terminou com um novo alarme a soar no mesmo monitor. As palavras cujas frequências de utilização tinham agora disparado eram “Palhaço!” e “Rua!”