A escrita infinita
O homem sentado num sofá no lobby do Hotel Blau Varadero observa minuciosamente os clientes que entram e saem, os que se dirigem à recepção, os que estão simplesmente sentados à espera do autocarro que os levará ao aeroporto, enquanto escreve, num pequeno caderno de capa preta, histórias sobre as pessoas que observa. Inventa-lhes uma vida, relações, motivações, trajectórias…No balcão do primeiro andar, um outro homem observa o homem que escreve, e por sua vez escreve uma história em que o primeiro escritor aparece como personagem…
E há um rumor de que esta situação se prolonga, isto é, que em cada andar existe um escritor que escreve uma história sobre o escritor do andar abaixo, havendo mesmo um grupo extremista que defende que “são sempre escritores por aí acima…”
Um argentino garantiu-me que tinha visto Cortázar e Borges, sentados a uma mesa no Piano Bar do hotel, tentando cada um deles escrever uma história mais fantástica que a do outro enquanto alguém, no piano de cauda, martelava um tango...
E entretanto, no último piso do hotel, lá onde as trepadeiras abandonam os seus ramos à gravidade, Calvino, os cotovelos apoiados sobre o balcão, elabora cuidadosamente uma nova teoria sobre escritores que escrevem sobre escritores em hotéis das Caraíbas…