Uma fábula anarquista
Naquele país longínquo, o poder era uma árvore. Grande, de longos ramos. E muita gente vivia à sombra do poder.Esses tinham medo que o poder caísse na rua. Assim, os ramos mais pesados eram escorados para evitar esse tão perigoso evento.
Até que entre aqueles que não estavam à sombra, começou a grassar a revolta. E a palavra de ordem era "Queimar!". E uma noite foram junto da árvore, acumularam erva seca em redor do tronco e deitaram-lhe fogo.
O poder era já seco, estéril, e a árvore ardeu bem. Na manhã seguinte, só restava o tronco calcinado.
Mas as raízes da árvore tinham chegado longe, e poucas semanas depois surgiam rebentos um pouco por todo o lado e novos poderes apareceram e se multiplicaram. Pequenos poderes, mas poderes na mesma.
E uma nova palavra de ordem começou a circular, cada vez com mais insistência: "Cortar e queimar!".
E uma noite, ao sinal combinado, equipas bem treinadas cortaram todas as árvores que tinham nascido da velha árvore do poder, fizeram o mesmo ao tronco desta, que se mantinha ainda de pé, juntaram toda a madeira cortada e acenderam uma fogueira gigantesca. E em volta dela festejaram!
E na manhã seguinte, foi a primeira vez que naquele país foi possível dizer, com verdade, que o Sol nasceu para todos...
2 comentários:
Boa noite!
Este texto fez-me lembrar a ditadura de Salazar, a revolução, e nova instituição democrática, que de democracia tem muito pouco.
Gostei!
Cumprimentos
Miguel Garcia
Pois é... Até eu tenho andado a pensar que a tropa, antigamente, ainda fazia uns golpes de estado...
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