quinta-feira, 22 de junho de 2006

Problemas com o Mercado

As suspeitas de Adérito Gomes, funcionário da Inspecção e Vigilância das Actividades Económicas, começaram quando os preços dos combustíveis deixaram de estar fixados pelo governo e a suposta concorrência não os fez diminuir mas, pelo contrário, provocou o seu aumento.
“Passa-se qualquer coisa de estranho com o Mercado”, pensou o inspector Gomes, e passou a observá-lo com mais atenção.
As suspeitas avolumaram-se quando soube que com a liberalização parcial da venda dos produtos farmacêuticos, os preços médios dos medicamentos de venda sem receita tinham subido.
“Então e o Mercado ?”, questionou-se novamente o inspector num dos seus períodos de reflexão, que tinha lugar enquanto bebia a bica no fim do almoço.
E a observação atenta do Mercado mostrou que ele almoçava com banqueiros, passeava nos iates de grandes industriais, e este comportamento levou a Inspecção a abrir formalmente uma investigação.
A brigada passou a vigiar o Mercado vinte e quatro horas por dia, e no quinto dia surgiu a oportunidade que esperavam: às duas da manhã, observaram-no a sair do clube nocturno mais in da capital, cujo dono tinha ligações conhecidas a paraísos fiscais um pouco por todo o mundo. Deixaram-no entrar no carro (um topo de gama, comprado duas semanas antes) e arrancar, e mandaram-no parar.
Fizeram-no soprar no balão, e como a taxa de alcoolémia ultrapassava o permitido, puderam legalmente levá-lo para a sede da Inspecção para interrogatório.
A experiência dos inspectores permitiu-lhes em pouco tempo detectar um caso claro de usurpação fraudulenta de identidade, desaparecendo todas as dúvidas quando o falso Mercado não soube dizer o que era a “lei da oferta e da procura”.
A partir daí o interrogatório endureceu um pouco e com mais vinte minutos sabiam os nomes de todos os cúmplices e o local onde estava sequestrado o verdadeiro Mercado: na casa forte do Banco Glocal, cujo PDG andava havia algum tempo na mira da Inspecção, devido a umas operações obscuras no offshore da Madeira.
Obtido um mandado de busca, uma brigada de choque fez uma visita surpresa à sede do Banco, conseguindo libertar o Mercado.
Um tanto enfraquecido pelo período de cativeiro, o Mercado meteu uns dias de baixa para se recompor, e enquanto isso todas as OPAs, privatizações, deslocalizações e coisas semelhantes ficaram em standby.
Até a Globalização, embora a contragosto, foi obrigada a meter férias.

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