Coisas do Cérebro
(Com uma Grã-referência à magnificência de João Galamba de Almeida)Era um leitor omnívoro. Lia tudo o que lhe caía nas mãos. Romance, poesia, biografia, viagens, ensaio, teatro, correspondência… Mas também lia jornais, revistas, panfletos publicitários, guias turísticos, boletins da Junta de Freguesia…
E, perguntará o leitor, a que se devia essa obsessão compulsiva
pela leitura? Porque muito cedo tinha descoberto que a sua esperança de vida
aumentava na proporção daquilo que lia. Lendo, ia conseguindo afastar o desenlace
final.
Mas um dia descobriu que tinha esquecido completamente o
primeiro livro que tinha lido. E depois outro, e outro…
E pouco a pouco ganhou a certeza de que, por cada novo livro
que lia, havia outro livro que esquecia.
E assim não ficou na história por conseguir adiar a Morte
através da leitura, facto que continua a ser universalmente ignorado, mas por
ser o primeiro caso documentado de que a capacidade do cérebro humano é
limitada. E quando enche, para entrar mais qualquer coisa, alguma outra coisa
tem de sair.