domingo, 7 de junho de 2020


Coisas do Cérebro

(Com uma Grã-referência à magnificência de João Galamba de Almeida)

Era um leitor omnívoro. Lia tudo o que lhe caía nas mãos. Romance, poesia, biografia, viagens, ensaio, teatro, correspondência… Mas também lia jornais, revistas, panfletos publicitários, guias turísticos, boletins da Junta de Freguesia…
E, perguntará o leitor, a que se devia essa obsessão compulsiva pela leitura? Porque muito cedo tinha descoberto que a sua esperança de vida aumentava na proporção daquilo que lia. Lendo, ia conseguindo afastar o desenlace final.
Mas um dia descobriu que tinha esquecido completamente o primeiro livro que tinha lido. E depois outro, e outro…
E pouco a pouco ganhou a certeza de que, por cada novo livro que lia, havia outro livro que esquecia.
E assim não ficou na história por conseguir adiar a Morte através da leitura, facto que continua a ser universalmente ignorado, mas por ser o primeiro caso documentado de que a capacidade do cérebro humano é limitada. E quando enche, para entrar mais qualquer coisa, alguma outra coisa tem de sair.